sábado, 22 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
ainda o vento
Vento quente e forte me tira do
eixo, me agride e paralisa. Medo. Quase que vejo as moiras – principalmente a
terceira, que imagino de uma maneira toda especial – voando no vento, me
espreitando e gargalhando. Que coisa...
tensão
O ofício da chuva é chover
Pois chova! – e que seja logo
Esse vento quente ventando forte
Me deixa louca
domingo, 16 de dezembro de 2012
crescendo
Quando era criança, às vezes eu
sentia dores que não sabia explicar. Queixava-me e minha mãe, invariavelmente,
respondia que aquilo era bom e que passaria: era dor de crescimento. Eu não
conseguia entender. Hoje, faz todo o sentido.
cortinando
Quando eu era pré-adolescente, o que tinha de mais ridículo era usar saia pela canela. Chamava-se "maria-mijona". Pois... instalaram minha cortina.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
descortinando
Urgência urgentíssima: cortina na
sala do meu apartamento, já que a porta-janela (ou janela-porta?) é de vidro.
Ambiente totalmente devassado. Então fiz a parte que me cabia. Procurei loja,
escolhi a mais simpática, agendei a medição, comprei, paguei e, dois dias
depois, recebi as pessoas responsáveis
pela instalação. Um casal, ele para fazer os furos na parede; ela para colocar
a cortina. Pareceu-me justo.
Já no início dos trabalhos, no entanto,
senti o tamanho da encrenca. Começaram a confabular sobre o ponto dos furos e
não conseguiam chegar a um acordo sobre questão das mais importantes: Se a
cortina mede 2,40m de altura e a porta tem 2,10m, a quantos centímetros do
marco devemos furar a parede?
Eu não tenho grande simpatia por
números, mas confesso que só não ri porque do resultado daquele problema
matemático dependia a sanidade da minha sala.
Pois fizeram os furos. No lugar
errado. Furaram de novo, mais abaixo. Viga de concreto. O homem suava. A mulher
escrevia no meu tabuão escuro com o
salto do sapato.
Duas horas e quinze minutos
depois, o varão estava no lugar. Acima dele, dois buracos cuidadosamente cobertos com gesso branco, na
parede creme, acusavam a porcaria do serviço. Meu estômago já nem reclamava mais
de fome, tinha-se acostumado. Minha TV novinha, apesar da toalha que eu jogara por cima, cuspia pó de tijolo e concreto.
Poeira por todos os lados. Sulcos profundos – vários, muitos! – no laminado
marrom escuro.
A cortina? Voltou para a
costureira, cheia de pontas, com diferenças de até dois centímetros.
Eu? Neste momento, sentada bem no
meio da sujeira (ainda não tive coragem de limpar), desabafando aqui, já que
disso depende a minha sanidade.
Pensando (e sentindo) bem, já
compartilhei, já bufei três vezes, já estou ótima, pronta para rodo e pano de
chão. Fui! Ah, antes que me esqueça, desculpem
qualquer coisa.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
dezembro
É dezembro, as pessoas fazem
retrospectivas. Eu adoro fazer isso, e também traçar metas para o novo ano.
Meu 2012 resumiu-se a partir e
voltar, vir e ir. Tanto fui e tanto vim, que acabei retornando ao início, minha
cidade natal. Aqui estou, devidamente instalada e completamente perdida. Justo
aqui. As ruas são estranhas, fazem curvas, bifurcam, provocam-me. O clima é
esquisito, nunca sei se vai chover, sol forte, brisa calma ou ventania.
Única – e ótima! – certeza: como
estou no ponto de partida, só posso seguir adiante. Minha meta para 2013.
"Parentes são meus dentes"
Uma de
minhas avós dizia sempre isso. Eu achava bonito. Hoje, não concordo. Aliás, nos
últimos dias estou tendo mais uma comprovação de que nossos familiares são
nossa maior riqueza. Quando não estamos bem, é bom demais ouvir “ Fica tranquila, nós dois vamos
resolver isso.” Ou receber um abraço apertado. Ou um telefonema no meio da
tarde só pra perguntar como estamos.
Alguém que esquadrinha a cidade
toda para te ajudar a escolher o melhor apartamento. Alguém que faz questão de
conhecer tua casa nova. Quem te apresenta o supermercado mais legal da cidade.
Um convite para o cinema. Convite para a balada. Quem faz questão de te
emprestar um vestido bonito. Quem te hospeda na sua casa e – mais – te dá a
chave da casa! Quem te recebe dizendo: “Vais ficar no melhor quarto, o meu.”
Quem te envia mensagem dizendo: “Estou adorando conversar contigo, te conhecer
melhor”. Quem te manda email, do nada, querendo saber de ti, até te xingando
pela falta de notícias. Quem viaja pra te ver. Quem viaja contigo em incríveis “papos
cabeça”. E mais as rodas de violão “Essa tu vais cantar, essa é pra ti.”
Meus familiares, amados meus.
Vó, parentes são meus entes.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
horror
Não são lençóis brancos esvoaçando pela casa
Não são esses os meus fantasmas
O que me aterroriza, me assombra as noites
São gritos tenebrosos, fel em pedaços
Não durmo, medo que a baba peçonhenta
Escape, extravase, conspurque e contamine
Pavor de não ter mãos
bastantes
Para conter na garganta o urro, a fúria
A dor.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
autofagia
Há quem se doe sem limites
Forma torta de amar, leviana, louca
Quando enfim dão-se conta de si
Estão sós e secos
Membros hirtos, coração empedernido
amargor na boca.
E então, como quase nada mais lhes resta
É do ressentimento e da mágoa imensa
Que se alimentam
E afinal se impõem – postura majestática
Figura árida, incômoda presença
Que acusa, denuncia, aponta.
domingo, 28 de outubro de 2012
desvio
Ele sonhou que dava a ela lápis de cor
Mas não
A ingrata preferia os próprios sonhos
– e em preto e branco
sábado, 27 de outubro de 2012
contrassenso
Leio que é livre aquele que tem a capacidade de ser feliz
sozinho. É um belo conceito, inspirador. Por outro lado, conheço pessoas que,
perseguindo liberdade, acabam se
aprisionando na solidão.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
pela mão de Drummond
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu coração.
Gosto de ler esse poema de
Drummond como se ele me dissesse que é bobagem buscar a felicidade fora de mim. Cá dentro
é que ela está, aqui há um mundo
infinitamente maior do que tudo aquilo que meus olhos podem ver do lado de lá.
A propósito, hoje, em minha
caminhada diária, lembrei-me de uma palavra de que sempre gostei muito, mas da
qual andava esquecida: MAGNITUDE. Assim mesmo, bem assim gritada ela me
apareceu na cabeça. Achei bom. Ah, o poder da endorfina...!
domingo, 14 de outubro de 2012
reverso
Eu tenho sim um lado luz,
generosa feição de postura delicada.
Superfície de lago primorosamente bordada
com pontos prateados
e resplandecentes.
Assim me enfeito, encanto e seduzo,
mas não há nada que me toque – nada!
A ti no entanto, amado meu,
ofereço a outra face, meu fogo e meu sal,
meu lado obscuro, minha verdade,
águas profundas, o pior dos mundos.
A ti me entrego, exata esta loucura,
perfeitamente assim.
Porque é ali onde a escuridão me habita,
exatamente ali é que sou mais bonita.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
confidência
Às vezes uma tristeza
Que tem nome e sobrenome
Se instala aqui no meu peito
E quase que me consome
É um aperreio insano
Penoso desassossego
Ele se chama Saudade
De sobrenome Segredo
sábado, 6 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
o poder da endorfina
Hoje, depois de três dias sem
nenhuma atividade física, nem eu me aguentava mais. Péssimo humor. Então decidi
dar uma caminhada na Lagoa do quintal aqui de casa. Três voltas, uma para cada dia
não “trabalhado”, combinei de mim para comigo.
Antes de concluir o primeiro
quarto da primeira volta percebi o tamanho da encrenca. Eu sou gaúcha desde
criancinha – mas também sou filha de minha mãe. Detesto frio e vento. E era
tanto vento que senti medo de ser derrubada. E o vento era tão frio que minha
alma congelou.
Mas, como gosto de me fingir de
corajosa, decidi cumprir o programado: três voltas. E me fui. Por sorte e
experiência, tinha comigo vários lencinhos de papel – embora eu seja mulher valente, meu nariz é
covarde que só.
Sei que parece exagero, mas
garanto que não é. A situação era esdrúxula, vento muito forte, eu caminhando
contra, medo de ser carregada ou de ser atingida por algum galho de árvore.
Havia poucas pessoas na rua, todas por obrigação. Só eu por louca.
Mas fui lá e fiz.
De volta à segurança do
apartamento, meia hora para alongar o corpo, mais alguns minutos de meditação...
E eis aqui outra mulher: feliz.
domingo, 23 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
INTERLÚDIO
Início de noite...
Vento forte, os corredores do prédio
assoviam. Um restinho de claridade aquece o apartamento. No sofá estreito, braços,
pernas, mãos. Cabelos entrelaçados, cochichos, risadas contidas. Paz.
...então, de repente, amanhece.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
tempo
Lá fora chove devagar
Os pingos na vidraça provocam
a-té-quan-do...a-té-quan-do...a-té-quan-do?
Cá dentro, vendaval
No peito machucado retumba
a-té-nun-ca...a-té-nun-ca...a-té-nun-ca!
no elevador
Luz branca, teto escarlate,
pensamentos gris.
A porta se abre:
dois olhos violeta, um sorriso,
e o dia muda de cor.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
como antes
Florescem as orquídeas,
os parques se oferecem,
o sol enfeita fotografias.
No topo das escadarias, beijam-se amantes.
Tudo parece lindo; como antes, apenas parece.
Porque sempre haverá alguém
que depois de afagos, risos, loas,
sem aviso e quase sem motivo
fugirá num trem
para Lisboa.
sábado, 8 de setembro de 2012
reencontro
Não mais tinta nos cabelos. Não
mais cremes, disfarces; deito fora esmaltes, itens de maquiagem... No espelho,
quero me encontrar pura e simplesmente.
Vejo a pele manchada; os dois
traços laterais aos lábios finos; as linhas entre as sobrancelhas fingindo severidade ou
nostalgia.
Cílios ralos... e os olhos baços
emoldurados por sulcos. Olhos que me tragam e me transportam para o fundo de
mim. Nessa viagem doida, eu, que já me julgava perdida, afinal me entendo. Minhas
luzes, minhas sombras, meu doce, meu fel. E então, através do meu mal, encontro
meu deus.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
domingo, 2 de setembro de 2012
loca - pero no mucho
Cuando deseo cometer
locuras
duermo –
es más seguro
El sueño me
toma
pero siempre
me permite volver...
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
ninho vazio
Foram-se todos a conquistar o mundo.
Fiquei eu.
Não mais as gargalhadas pródigas,
as discussões no
jantar,
os papos à meia-voz
na varanda
quando as noites adivinhavam tempestade...
Casa grande, eu me espalho
Cá no peito, eu me encolho.
sábado, 11 de agosto de 2012
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
domingo, 5 de agosto de 2012
sábado, 21 de julho de 2012
ela acorda
O olhar já saudoso vagueia pelo quarto rosa
Sobre a cômoda, o sorriso antigo emoldurado
Na parede ao lado, o espelho que revela e esconde
Enquanto isso, borboletas flutuam na janela –
Lembranças do que foi, do que seria, do que não pôde
segunda-feira, 16 de julho de 2012
mudança
desfaço espaços na casa, aproveito brechas na mala
descarto bobagens, aliso roupas, dobro lembranças
............e
me espalho em suspiros............
domingo, 15 de julho de 2012
sexta-feira, 13 de julho de 2012
regresso
Não durmo... rememoro
O que não é, eu invento
Manhãzinha canso
E nessa esperança pelo avesso
Mergulho de vez, me perco
E afinal... adormeço.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
moira
Penetra pela fenda do postigo
Fareja e se joga
sobre a presa
Beija-lhe a face, a escuridão do umbigo
E cada partícula indefesa
Perde-se no transe, e ao desabrigo
Não percebe a mão que se levanta
E agonizando no
pescoço liso
Deseja ainda a pálida garganta
sábado, 7 de julho de 2012
fugaz
Carros, carros... retenção.
Buzinas, suspiros impacientes
– Biscoitos? – Não.
Frustração,
impotência, fúria
Ela já nem sabe o que sente
( motos gritam e passam céleres
cortam o vento, ganham
tempo
no mar, pranchas dançam
leves e livres, celebram)
Ela quisera voar, como motoqueiro ou surfista
Em sonhos, ri – logo retorna à mesma estrada
Carcereira e encarcerada... sempre ali.
de Mário Quintana
Qualquer ideia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais faz que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua.
terça-feira, 3 de julho de 2012
plena luna
Nos cachos, embaraços; nas mãos, tensões
No vermelho da boca, o fogo insano.
Os braços aprisionam, as unhas magoam
Urgências, gritos contidos, desatino.
Os dois dançam.
Plena Luna espia a varanda do pecado
E goza também ela da paz que ele propicia.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
sábado, 30 de junho de 2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
memória - coisa mais chata
Ele só falava das “bodas de diamante”,
no próximo julho. Ela, a mais esquecidinha dos dois, vez por outra resmungava: “Bodas
coisa nenhuma!” Nós já nos empolgávamos,
embarcando na viagem dele, já pensando
na lista de convidados, preparando outra festa de arromba. Até que, do nada, o
desmancha-prazeres:
- Agora lembrei, isso foi no ano
passado, a festa e tudo.
Ah, paizinho, francamente... que
coisa mais sem graça!
quarta-feira, 20 de junho de 2012
lena
LENA
Mais uma vez ela se levantava de uma cama estranha.
A vida que conhecia era de braço a_braço, de boca em boca.
O nome era de santa –
ou quase.
Louca, louca, louca! Desvairada, jogava-se em águas sombrias,
dançava. O tornozelo e o quadril hipnotizavam.
E lá se ia – e sempre
dela menos voltava:
sobrava um travo, um gosto de pecado, um resto de nada.
Até que Mada se forMaria.
poema de gratidão
A lua prateada que tu me deste
foi entrando devagar pela janela -
receio de assustar, pejo de invadir.
Suave, mansa, espiou cada canto
e em cada canto deixou seu rastro.
Viu-me reclinada,
as mãos soltas, abandonadas,
os olhos vazios como que esperando
por tudo ou por quase nada.
E foi-se dando em
sopros.
Enfim iluminou o quarto todo, até a escura almofada
onde eu me encontrava.
Tocou o corpo seco, o peito rígido,
os lábios ásperos.
E tudo se fez brilho por obra dessa lua.
Todavia, um olhar zeloso e amável
para além de mim,
além da lua
veria os teus dedos, o teu carinho -
toda generosidade tua.
terça-feira, 19 de junho de 2012
quarta-feira, 13 de junho de 2012
alento
A
avó e seu netinho não estavam de mãos dadas. A criança segurava a ponta de um
galho e a mulher segurava a outra ponta.
Tomavam conta de toda a largura da calçada. Distraída, quase perco a poesia;
mas o olho do menino me atraiu. Era tanta
confiança que me comovi. E no olhar da avó, ternura e paz. Voltei para casa com
a maravilhosa certeza de que o mundo, afinal, tem salvação.
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