terça-feira, 30 de outubro de 2012

autofagia


Há quem se doe sem limites
Forma torta de amar, leviana, louca
Quando enfim dão-se conta de si
Estão sós e secos
Membros hirtos, coração empedernido
amargor na boca.

E então, como quase nada mais lhes resta
É do ressentimento e da mágoa imensa
Que se alimentam
E afinal se impõem – postura majestática
Figura árida, incômoda presença
Que acusa, denuncia, aponta.

domingo, 28 de outubro de 2012

desvio


Ele sonhou que dava a ela  lápis de cor
Mas não
A ingrata preferia os próprios sonhos
– e em preto e branco

sábado, 27 de outubro de 2012

contrassenso


Leio que é livre aquele que tem a capacidade de ser feliz sozinho. É um belo conceito, inspirador. Por outro lado, conheço pessoas que, perseguindo  liberdade, acabam se aprisionando na solidão.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

pela mão de Drummond


Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu coração.

Gosto de ler esse poema de Drummond como se ele me dissesse que é  bobagem buscar a felicidade fora de mim. Cá dentro é que ela está, aqui  há um mundo infinitamente maior do que tudo aquilo que meus olhos podem ver do lado de lá.
A propósito, hoje, em minha caminhada diária, lembrei-me de uma palavra de que sempre gostei muito, mas da qual andava esquecida: MAGNITUDE. Assim mesmo, bem assim gritada ela me apareceu na cabeça. Achei bom. Ah, o poder da endorfina...!

domingo, 14 de outubro de 2012

reverso



Eu tenho sim um lado luz,
generosa feição de postura delicada.
Superfície de lago primorosamente bordada
com  pontos prateados e  resplandecentes.
Assim me enfeito, encanto e seduzo, 
mas não há nada que me toque – nada!

A ti no entanto, amado meu,
ofereço a outra face, meu fogo e meu sal,
meu lado obscuro, minha verdade,
águas profundas, o pior dos mundos.
A ti me entrego, exata esta loucura,
perfeitamente assim.
Porque é ali onde a escuridão me habita,
exatamente ali é que sou mais bonita.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

confidência


 Às vezes uma tristeza
Que tem nome e sobrenome
Se instala aqui no meu peito
E quase que me consome

É um aperreio insano
Penoso desassossego
Ele  se chama Saudade
De sobrenome Segredo

sábado, 6 de outubro de 2012

asas


Nesse voo inverso
Me procuro
E me disperso

terça-feira, 2 de outubro de 2012

serenidade


Asas nos pés
Mãos operárias
No coração, calmaria