quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

para o bem ou para o mal


Insônia aguda é grave
Noite cega esclarece
Noite muda revela

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

admitindo


Quando me mudei para este apartamento, uma das primeiras providências foi comprar um kit de ferramentas. Acho coisa muito chique, toda mulher independente deve ter. Claro, nada muito grande, como convém. Uma chave inglesa (espero que seja compatível com os... as... necessidades brasileiras); uma chave de fenda ótima; uma outra chave que tem uma cruzinha na ponta, essa já usei; e uma outra chavinha, a mais bonitinha, que, sinceramente, não sei pra que serve. Martelo não comprei, que prezo muito meus dedos – e os ouvidos dos vizinhos. Alicate também não, mas já está na lista, me faz falta para, eventualmente, retirar a rolha do saca-rolhas.
Introdução feita, vamos aos fatos de hoje. Todo mundo sabe que aquela espécie de peneirinha do chuveiro precisa de uma limpeza vez por outra. Pois a minha ducha já estava espirrando água para todos os lados, coisa mais chata. Para lavar meu umbigo, precisava fechar os olhos. Hoje resolvi tomar uma atitude. Escada, chave de fenda, óculos na ponta do nariz, marchei para o banheiro. Foi difícil retirar a tal peneirinha, mas consegui. Estava, mesmo, cheia de pedrinhas, terrinhas, sei lá mais o quê. Fiz a higiene dela e, munida dos apetrechos todos, subi novamente na escada. Sensação boa, de poder. Comecei a parafusar a coisinha de volta. Quem diz? Meu banho, hoje, foi ducha escocesa – pra não dizer banho de cano. Meus dois irmãos na praia, meu cunhado viajou não sei pra onde.
Meninas, vamos combinar, tem horas que... ah, vocês sabem.

amanhecendo


Na parede do quarto, o sol faz linhas paralelas
Pela janela, o ruidoso atropelo
De homens e mulheres buscando a vida

Na cama, corpo abandonado, fantasias
Saudades do que não foi... e do que não seria

Então um susto – e um sopro
E o sol se faz, por linhas tortas, também aqui.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

consigo



Descumpro o traço
Desvio
Renasço em sopros

Em cada esquina me reinvento
E sigo

domingo, 3 de fevereiro de 2013

amor feinho


Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

(Adélia Prado)

avesso


 Pode parecer promessa
 mas eu sinto que você é a pessoa
 mais parecida comigo
 que eu conheço
 só que do lado do avesso.

 Pode ser que seja engano
 bobagem ou ilusão
 de ter você na minha
 mas acho que com você eu me esqueço
 e em seguida eu aconteço.

 Por isso deixo aqui meu endereço
 se você me procurar
 eu apareço
 se você me encontrar
 te reconheço.

(ALICE RUIZ)