quinta-feira, 6 de maio de 2010

Choque de realidade



Estávamos em Paquetá (já escrevi minhas impressões a respeito da Ilha), jantarzinho improvisado pela cozinheira do hotel, numa espécie de barzinho – o hotel não serve jantar nem abre o restaurante à noite.Tudo bem, ambiente informal, papo despretensioso, sopinha deliciosa.

Apenas P., eu, uma das donas do hotel e a cozinheira, dona Laura. Que, aliás, falava pelos cotovelos. Enquanto saboreávamos a sopa, ouvíamos a simpática senhora. Ficamos sabendo que ela é do interior de MG e que veio para o RJ à procura de emprego. Mora em São Gonçalo, trabalha em Paquetá nos finais de semana e sempre que há feriado.

Falando a respeito do lugar onde mora, disparou:

- As pessoas acham que lá tem muita violência; não tem, não. Meus meninos brincam na rua até a noite, as pessoas não passam chave nas portas, dormimos com as janelas abertas.

Àquelas alturas, eu quase perguntava para dona Laura onde, afinal, ela morava. Queria me mudar para lá, com urgência.

- Também, todos já sabem: Se alguém fizer crime ali, os pessoal mata. Tá certo, cês não acham? Afinal, quem quiser fazer coisa errada, que faça, mas noutro lugar. A comunidade, eles têm que respeitar. Cês não acham?

Doeu. Não sei o que me impressionou mais. Não o caso em si, afinal ninguém é ingênuo de pensar que pena de morte não existe no Brasil. Mas me chocou a naturalidade com que dona Laura externou sua opinião a favor do estado de coisas, e a certeza dela de que eu concordaria; e me incomodou sobremaneira o abalo que senti.

Afinal, que mundo é esse em que eu vivo?



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