quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Curva do Vento

Uma das lembranças mais marcantes da minha infância tem o vento como protagonista. Quando nuvens negras escondiam o céu, minha mãe acendia velas, queimava raminhos secos e espalhava tudo pela casa, murmurando frases incompreensíveis, entrecortadas pelo susto. Eu adivinhava: o vento, logo ali, do outro lado da curva, preparava-se. De início viria cauteloso, espiando aqui e ali; em seguida, já conhecendo o terreno, ele se tornaria agressivo, ameaçador. Descabelava moças, levantava saias, derrubava roupas dos varais. Voavam papéis, latas, galhos de árvores. Ainda ouço o barulho.

Eu sentia muito medo. Medo de que me levasse a mim, para um lugar feio e sombrio.

(Suspiro) Pois em Paquetá tem um lugar chamado “Curva do Vento”. Precisei me conter para não apressar o passo.



4 comentários:

  1. Que lindo texto!!! Parabéns!
    Adorei a curva do vento. E não sabia de nada disso (que, certamente, compartilho "por dentro"... em linha reta e mão dupla, como são mães e filhas - agora sei). Beijos de franja em pé!

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  2. Que lindo tia ^^
    Já assistiu "Filhas do vento"? Vale a pena, assim que li seu texto me lembrei deste filme brasileiro.
    Beijos, Carol.

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  3. Bíbi,
    obrigada pelos "beijos de franja em pé". Adorei.
    beijo

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  4. Carol,
    que bom que gostaste. Tua opinião tem um peso muito grande. Já assisti a esse filme, sim. Deixou-me de boca seca, mas amei.
    Beijo

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