domingo, 15 de agosto de 2010
os meus espinhos
Na embriaguez verbal dos primeiros tempos, começamos mostrando somente o que temos de mais bonito. Oferecemos ao outro os miosótis da nossa alma. Mas logo percebemos que isso não basta. Se ele os conhecer todos, ainda assim nos sentiremos desconhecidos, e permaneceremos em extremo perigo. Pois atrás dos miosótis crescem urtigas espinhentas, e é através delas que queremos ser amados. Amar as minhas belezas qualquer um pode, é fácil demais. Mas para amar os meus defeitos é necessária uma pessoa especial, aquela a quem eu também amarei.
(E por falar em amor - Marina Colasanti)
domingo, 9 de maio de 2010
de mães e de filhas
sábado, 8 de maio de 2010
O que nos move, o que nos prende
Eu tinha 18 anos, cidadezinha do interior. Estava em minha loja, observando as poucas pessoas que passavam. De repente, movimentação inusitada. Fui para a porta da loja e vi. Três sujeitos espancavam um homem bêbado e o jogavam na caçamba de uma caminhonete – ele, ensanguentado e sujo – como se fosse um saco de batatas.
O motivo de tanta violência, não sei. Mas nada justificaria tal brutalidade.
O que eu senti ao assistir à cena me assombra até hoje. Um impulso enorme de sair em socorro do homem, gritando que o soltassem, que não podiam tratar ninguém daquela maneira. E – no instante seguinte – uma força paralisante, um medo, uma covardia, um pensar nas consequências (mesmo sem saber quais), que me fizeram fugir para o interior da loja.
Essa lembrança me persegue. Se eu tivesse tentado socorrê-lo, que espécie de pessoa seria hoje? Bem diferente do que sou, tenho certeza. Ou não?
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Choque de realidade
Estávamos em Paquetá (já escrevi minhas impressões a respeito da Ilha), jantarzinho improvisado pela cozinheira do hotel, numa espécie de barzinho – o hotel não serve jantar nem abre o restaurante à noite.Tudo bem, ambiente informal, papo despretensioso, sopinha deliciosa.
Apenas P., eu, uma das donas do hotel e a cozinheira, dona Laura. Que, aliás, falava pelos cotovelos. Enquanto saboreávamos a sopa, ouvíamos a simpática senhora. Ficamos sabendo que ela é do interior de MG e que veio para o RJ à procura de emprego. Mora
Falando a respeito do lugar onde mora, disparou:
- As pessoas acham que lá tem muita violência; não tem, não. Meus meninos brincam na rua até a noite, as pessoas não passam chave nas portas, dormimos com as janelas abertas.
Àquelas alturas, eu quase perguntava para dona Laura onde, afinal, ela morava. Queria me mudar para lá, com urgência.
- Também, todos já sabem: Se alguém fizer crime ali, os pessoal mata. Tá certo, cês não acham? Afinal, quem quiser fazer coisa errada, que faça, mas noutro lugar. A comunidade, eles têm que respeitar. Cês não acham?
Doeu. Não sei o que me impressionou mais. Não o caso em si, afinal ninguém é ingênuo de pensar que pena de morte não existe no Brasil. Mas me chocou a naturalidade com que dona Laura externou sua opinião a favor do estado de coisas, e a certeza dela de que eu concordaria; e me incomodou sobremaneira o abalo que senti.
Afinal, que mundo é esse em que eu vivo?
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Aurora
Tenho saudade do tempo
em que era o senhor do universo.
Confesso: a sensação de poder
que teu amor me causava
fazia-me Deus.
Tenho saudade do tempo
em que eras reflexo de mim
- eu de ti -
e assim nós dois,
duplos, mas únicos; ilógicos,
perfumávamos de anis as manhãs.
Tenho saudade das coisas
além do mar
que o teu olhar me mostrava;
hoje, nada...
Ontem, riso; hoje, lamento
- tu, Aurora.
O que antes era leve brisa perfumada
hoje sopra, ensandecido, pela estrada
e destrói o catavento
da minh'alma.
AlterEgo