Uma das lembranças mais marcantes da minha infância tem o vento como protagonista. Quando nuvens negras escondiam o céu, minha mãe acendia velas, queimava raminhos secos e espalhava tudo pela casa, murmurando frases incompreensíveis, entrecortadas pelo susto. Eu adivinhava: o vento, logo ali, do outro lado da curva, preparava-se. De início viria cauteloso, espiando aqui e ali; em seguida, já conhecendo o terreno, ele se tornaria agressivo, ameaçador. Descabelava moças, levantava saias, derrubava roupas dos varais. Voavam papéis, latas, galhos de árvores. Ainda ouço o barulho.
Eu sentia muito medo. Medo de que me levasse a mim, para um lugar feio e sombrio.
(Suspiro) Pois em Paquetá tem um lugar chamado “Curva do Vento”. Precisei me conter para não apressar o passo.